quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Era dos Paradoxos




Nós bebemos demais, fumamos demais, gastamos sem critérios, dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e rezamos raramente.

Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores. Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos freqüentemente. Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos. Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores. Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos. Aprendemos a nos apressar e não a esperar. Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos menos. Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados. Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pilulas 'mágicas'. Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa. Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'. Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão por aqui para sempre. "Por isso, valorize o que você tem e as pessoas que estão ao seu lado."


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Aos que se Acham




A pessoa que se acha se acha tanto que não consegue rir de si mesma, aliás, a pessoa que se acha geralmente não tem outro assunto a não ser ela própria e todos os seus feitos. Sim,  a pessoa que se acha geralmente é tão ocupada em se achar que não sabe rir. De nada.
A pessoa que se acha não tem chulé, não dorme nunca até mais tarde, nunca passou ridículo na vida, conseguiu tudo o que quis na vida durante a vida inteira e sempre tem um certo arzinho condescendente em relação aos outros, meros mortais. A pessoa que se acha parece que nunca sofreu na vida, nunca levou porrada, nunca nada. E dá conselhos e "dicas".
Detesto pessoas que se acham, detesto com todas as minhas forças. Porque pessoas que se acham geralmente são burras e desinteressantes, são autocentradas e gostam de ditar regras.
Atenção: detesto falsa modéstia também. A pessoa que se acha não é aquela que chega e fala: sou bom à beça nisso. Escrevo hiper bem, cozinho muito, sou linda, sei lá. Isso eu acho bacana, a gente tem mais é que assumir nossas qualidades sem culpa e sem medo, e anunciá-las e falar do que gostamos e do que não gostamos, e não perder tempo com gente desinteressante ou burra.
Mas não perder tempo no mundo, construir o próprio caminho e saber das suas qualidades não é se transformar em pessoas que se acham. Porque ninguém, mas ninguém mesmo, é o último pacote da bolacha, a última coca-cola no deserto, ou ( essa eu adoro! ) o i do Mississipi. E qualquer pessoa inteligente e sensível sabe disso. E por isso pode rir de si própria, e por isso pode ser feliz. Já pensou, quanta responsabilidade e preocupação, ser sempre o máximo do máximo do máximo?
A pessoa que se acha acaba ficando pesada, pois acha que carrega consigo toda essa responsabilidade. Geralmente não tem a menor, mas a menor idéia do que acontece ao seu redor, mas acha que tem. É na verdade chata, mas se acha legal. Burra, se faz de inteligente, e sempre, sempre, a pessoa que se acha, acha que tem o mundo aos seus pés. Corrige os outros, é cheia de Certezas.
Conheci outro dia uma que só ficava comentando como era chato ter que desviar o tempo inteiro das investidas que todos os homens lhe faziam sem parar. Eu comecei a rir, mas aí percebi que ela falava sério. E perguntei: ah é? nenhum resiste? Ela: " não.. todos caem... " Foi cômico, mas meio trágico ao mesmo tempo.
Outro, não parava um instante, mas nem um segundo sequer, de falar de si. Como eu sou isso ou aquilo, num papo sem fim, que nem uma mulher apaixonada aguentaria, quanto mais nós.
Ou aquele que sempre tem uma opinião sobre tudo, que se usa como exemplo, cita a si próprio. E a cada encontro que tenho com as gentes que se acham me encho mais e me convenço mais que o que realmente me interessa nessa vida é a imperfeição, as taras, os fetiches, as obsessões assumidas, o riso, as tentativas e os tombos. A pessoa que se acha pode ficar lá, no Olimpo dos que se acham, desinteressante, chato e tedioso, que eu fico por aqui, me divertindo, aprendendo, e cheio de interesse pelo mundo e pelas outras gentes, que podem ser gentes, sem precisar ser deus.



Releitura da obra de Van Gogh







domingo, 17 de junho de 2012

Loucura Sã



Durmo tarde, acordo cedo. Durmo cedo, acordo tarde. Durmo à tarde, durmo cedo e acordo tarde. O sono me embala como ama, difícil é sair cedo da cama. Essa noite foi diferente, dormi pouco, o pensamento bradava rouco. Foi o tempo de fechar os olhos e ter que acordar. Não acreditei, o relógio já dizia pra eu levantar! Despertei e os meus pensamentos ainda vazios, adormecidos e frios. Atravessaram o dia por lugares solitários, vasculhando recordações, deixando o corpo recheado de emoções, saboreando de doces e amargas sensações.

Risos antecedendo lágrimas no olhar,  eu buscava a liberdade do meu pensar. Sensatez e desequilíbrio me ofereciam os braços. Não desejei os laços, rejeitei os abraços. No peregrinar encontrei a alma dividida: uma triste, escondida e perdida; a outra alegre, desenvolvida e cheia de vida. Na luz do juízo, a claridade refletia a complexidade da loucura e da sanidade. Na manifestação da ilusão busquei o equilíbrio na lúcida alucinação, firmando a razão e a emoção. Procuro a felicidade, mas quero realidade, já que tudo aqui é vaidade. No fim do passeio por dois mundos: a despedida. Meus sonhos se aconchegam no sono, os versos deixo-os no abandono. Cansei da viagem, meu corpo pede passagem.




quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Idade do Vinho


A gente amadurece com o tempo. Viver faz mais sentido, se a gente imita o vinho. Fica melhor com os anos. Deixa as caturrices da juventude. As ilusões inalcançáveis. As ideologias de carteirinha. Enfim, quando a gente põe mais o pé no chão. Compreendendo que tudo é mudança. Inclusive nós mesmos. Quem fica preso ao passado vive um tempo morto. Não enxergando a nova realidade à sua volta. Esse novo cenário de um teatro chamado vida. Onde não estamos estagnados, feito estátuas. Mas temos o livre arbítrio para nos reinventar. Escolhendo ser o personagem que quisermos.

Às vezes me surpreendo, ao ver pessoas tão mal-humoradas. Exibindo uma carranca assustadora no rosto. Certamente, elas não nasceram assim. Devem ter brincado na infância, sonhado na juventude, amado alguém ou desejado seu amor. Mas o que aconteceu, para ficarem desse jeito? A resposta pode estar também no vinho. Se ele não for bem cuidado, se transformarem vinagre. Eo sabor gostoso se torna ruim e intragável. Igualzinho às pessoas que não cuidam de seus sentimentos. Frequentemente cultivam pensamentos negativos. O ódio, a vingança e o ressentimento, com o tempo, azedam o nosso caráter. E assim nos tornamos vinagre na vida dos outros. Mas como o vinho, é sempre bom saber que estamos em processo de mudança. Cada dia tem o dom de nos mudar. Nem que seja um pouquinho. Cada dia como hoje. Que pode fazer você pensar melhor a respeito. Vinho ou vinagre. Em que está você está se tornando?


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quanto tempo?

Quanto tempo?
Quanto tempo ainda?
Anos, dias, horas?
Quanto?

Quando penso nisso
como me bate o coração.
Meu país é vida
Quanto tempo ainda?
Quanto?

Eu amo tanto o tempo que me resta.
Quero rir, correr, chorar, falar,
e ver e crer, e beber, dançar,
gritar, comer, nadar,
saltar, desobedecer.

Eu não acabei, eu não acabei.
Voar, cantar, partir,
voltar a partir.
Sofrer, amar, eu amo tanto
o tempo que me resta.

Já não sei mais onde
nasci, nem quando.
Sei que não foi há muito
tempo...e que meu país é a vida.

Eu também sei que meu pai dizia...
"O tempo é como o seu pão,
guarde um pouco para amanhã".
Ainda tenho o pão,
ainda tenho tempo, mas, quanto?

Quero brincar ainda,
Quero rir às gargalhadas.
Quero chorar rios de lágrimas.
Quero beber barcos inteiros de
vinho, de Bordeaux e da Itália
Quero dançar, gritar, voar,
nadar em todos os oceanos.

Eu não acabei, eu não acabei.
Quero cantar,
Quero falar até ficar sem voz.
Eu amo tanto o tempo que me resta.
Quanto tempo?
Quanto tempo ainda?
Anos, dias, horas, quanto?

Quero as histórias, as viagens.
Tenho tanta gente a ver,
tantas imagens,
de crianças, de mulheres,
de grandes homens,
de pequenos homens,
engraçados, tristes,
muito inteligentes, bobos.

Que engraçado,
os bobos me rodeiam,
como as folhas entre as rosas.
Quanto tempo?
Quanto tempo ainda?
Anos, dias, horas, quanto?

não me importo, meu amor.
Quando a orquestra parar,
continuarei dançando,
Quando os aviões não mais
voarem, eu voarei sozinho.
Quando o tempo parar,
Eu a amarei ainda.
Eu não sei onde,
Eu não sei como,
mas eu ainda a amarei.
Está bem?







segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ciclos




Da primeira febre de amor ao seu flagelo, da segunda, 
Mais branda, ao desértico instante do útero,
De seu desdobramento ao umbigo cortado, 
Ao tempo do seio e à época feliz do avental, 
Quando nenhuma boca se contorcia por não ter o que comer,
O mundo inteiro era um só, um nada tempestuoso;
Meu mundo fora batizado num córrego de leite.
A Terra e o céu eram como uma colina flutuante,
E o sol e a lua derramavam sua luz imaculada.

Da primeira impressão deixada pelos pés descalços, 
Da mão que se levanta, do aparecimento dos pêlos,
Ao milagre da primeira palavra afinal articulada, 
Do primeiro segredo do coração, o fantasma que adverte, 
À primeira ferida silenciosa na carne, 
O sol era vermelho, a luz acinzentada, 
E a Terra e o céu como duas montanhas enlaçadas.

O corpo progredia, os dentes irrompiam das gengivas, 
Os ossos se desenvolviam, ouvia-se o rumor do sêmen
Dentro da glândula sagrada, o sangue abençoava o coração,
E os quatro ventos, que sopravam como um só, 
Irradiavam a luz do som em meus ouvidos,
Despertando os meus olhos para o som da luz.
E amarela era a areia que se multiplicava, 
Cada grão dourado dava vida ao que lhe estava ao lado
Verde era a casa que cantava.

A ameixa colhida por minha mãe amadureceu lentamente,
O menino que ela fizera emergir das trevas 
Crescia forte ao seu lado no regaço da luz.
Era musculoso, carnudo, atento às coxas que gemiam
E à voz que, como a voz da fome, 
Comichava no rumor do vento e do sol.

E aprendi, com a primeira fraqueza da carne, 
A linguagem do homem, a retorcer as formas do pensamento
No pedregoso idioma do cérebro, a obscurecer
E novamente urdir a trama das palavras
Legadas pelo morto que, em seu alqueire sem luar, 
Não carecia de nenhum calor verbal.
A raiz das línguas se extingue num câncer estiolado,
Que é apenas um nome sobre o qual os vermes fazem um xis.

Aprendi os verbos da vontade, e tinha um segredo;
O código da noite se imprimira em minha língua;
O que fora um só eram muitos a ecoar no espírito.

Um só útero, um só espírito, expeliram a matéria, 
Um único seio amamentou o fruto da febre;
Conheci a outra face do céu que se divorcia, 
O planeta bilobado que girava em uma órbita;
Milhões de espíritos nutriam uma semente,
Como aquela que bifurca o meu olhar;
A juventude se abreviava, as lágrimas da primavera
Se dissolviam no verão e em centenas de estações;
Um único sol, um só maná, aqueciam e alimentavam.