Quem conhece ou já vivenciou a solidão real sabe das limitações da amizade virtual. Muitos usuários quando desligam o computador, sentem um vazio incapacitante por visualizá-la novamente, ou fica na net até cair de cansado para não senti-la.
Cada geração teve as suas válvulas de escape para a solidão e a maioria sempre foi destrutiva, infelizmente, e as redes sociais não fogem disso. Estão se tornado um vício como outro qualquer e pela facilidade de acesso podem se tornar grave, compulsivo.
A solidão é doída, pois não é uma opção, ela é um estado de espírito, e em alguns casos é resultado da nossa falta de traquejo, habilidade de conviver com o outro e ai vão se somando decepções por "x" motivos.
O mundo atual também está ajudando, cada vez mais, a vivermos no isolamento.
"O homem não é uma ilha" nos ensina a sociologia, mas muitos assim vivem hoje e o mundo virtual é o canal de ligação. Mas este canal dá a impressão que estamos, dentro de uma cápsula, (o nosso quarto, sala) e entrando em contato com milhares de pessoas virtuais onde todos nos agradam e que estão espalhadas por todos os cantos.
Estamos virando uma ilha rodeados de antenas.
O abismo real da solidão pode ir se instalando em nós por escolhas erradas com resultados traumatizantes ou, quando sucessivos, vão causando retraimentos unilaterais e vergonha de novamente se expor, embora nem sempre sejam estes os motivos, mas de qualquer forma podemos ir sentindo o " ficar" incapacitados em superar isto que criamos com o passar do tempo.
Com os traumas afetivos e de relacionamentos podemos ir ficando reclusos e ai vivendo mais "caindo ou sendo atropelado" do que ficando de pé, pois estamos em descompasso com o ambiente à nossa volta.
Voltar ao ritmo do mundo, surfar nas suas ondas sem ficar levando caldo em cima de caldo, no linguajar dos surfistas, passa a ser muito complicado.
Esta dificuldade pode terminar por nos imobilizar em graus diferentes e nos tornar reclusos.
É como estarmos à beira de um abismo ilusório onde, para ultrapassá-lo, teríamos só que dar um passo, mas nos vemos tão imobilizados pelo medo que não temos esta coragem.
E enquanto isso o mundo transcorre normalmente à sua volta, sem ninguém conseguir imaginar que ali do lado está uma pessoa aterrorizada com as coisas mais simples do mundo, e por isso o mundo virtual é mais fácil, pois nos aceita sem maiores exigências ou cobranças.
Assim como meios de vícios nos aceitam sem maiores exigências a não ser compartilha-lo.
O mundo real pode tomar uma dimensão intimidadora devido à nossa incapacidade de nele voltar a interagir e nesta vamos sendo atropelados.
Se estamos nesta situação há aprendizados a serem colhidos, reciprocidade de tempos idos, mas ver desta forma é muito difícil para quem está nela envolvido.
A solidão no meio das multidões tem muitos a nos ensinar, sofridamente, mas tem.
E como voltar à normalidade?
Tendo força de vontade, determinação e foco. Uma vontade forte de superação, de se recuperar, de se reintegrar, é fundamental e as ajudas que não vemos começam a se engrenar, pois a nossa vontade tem um força que não podemos dimensionar.
Assim como um corpo inativo tende a ficar nesta situação, assim também ficamos animicamente, e como o corpo sedentário sofre no inicio da movimentação, assim também acontece no mundo anímico.
Todos nós sabemos da dificuldade de largar qualquer vício ou de mudar qualquer hábito e a solidão perene está nesta linha. Só nos podemos dar fim a ela.
Não podemos esquecer que ela é um estado interior, podemos estar rodeados de muitas pessoas que nos querem bem, mas mesmo assim a senti-la de forma forte.
"Nenhuma criança aprende a andar sem levar muitos tombos, mas quase sempre sorrindo se levanta novamente, até adquirir firmeza nos passos. Assim tem de ser o ser humano no caminho através do mundo"
No mundo atual, não são poucos aonde a realização profissional vem bem antes da maturidade emocional, o que não acontecia antes.
O caminho do meio é sempre o mais indicado. Há que haver equilíbrio no nosso existir.
Deixamos, inconscientemente, que os nossos próprios medos venham a ganhar dimensão e depois fica difícil conviver com o mundo à nossa volta e ele pode aparentar ser cruel nestes casos, mas para sairmos deste labirinto anímico o primeiro passo é parar de se achar incapacitado para ele.
É difícil mas não tem outro caminho, afinal é a qualidade da nossa vida que está em jogo e só nós podemos decidir sobre ela, tudo depende de nós.
Se o mundo real nos parece cruel, vamos nos preparar para ele e não nos apartarmos dele, pois a verdadeira vida só existe ali, no calor ou frieza da proximidade, o que não sentimos no mundo virtual, pois ali parece que todos são perfeitos, mas o mundo real nos mostra que não somo bem assim.
O meio real em que vivemos é resultado da somatória do que sentimos individualmente.
Se nos isolarmos, ele cada vez mais vai tomando uma dimensão ilusoriamente atemorizadora, no sentido inverso da nossa coragem que vai se esvaindo.
Cedo ou tarde vamos ter que cair na real então o ideal é ir usando o relacionamento virtual como um trampolim para o real, mas não cair no erro de só se satisfazer com este.
O natureza do ser humano também é o de formar um lar, sem se privar de outras realizações e é natural sentir-se esta necessidade, faz parte da nossa natureza.
O errado seria não sentir isso, e muitos hoje tem vergonha de sentirem ainda este anseio, ou o anulam totalmente por alguma decepção tida ou por medo de novo sofrer, mas o moderno não nos tornou robôs, ainda temos a necessidade de um “ninho”, apesar de prováveis tropeços.
"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo" Roselis von Sass