O que ouves
E interpretas como acalento
Nada mais é que meu lamento
Insensíveis poluíram-me a nascente
Relegaram-me ao apodrecimento
Quando priorizaram o desmatamento
Alteraram meu curso natural
Represaram-se sem nenhum acanhamento
Em nome do progresso, mas a vida em detrimento
E agora quando quase nada mais me resta
Quando irreversível é meu assoreamento
É difícil, mas não impossível o meu reaparecimento
Basta que seus semelhantes
Não me tinjam com seus excrementos
Basta que apenas mudem seus procedimentos
Quero correr livre e ouro como nasci
Levando água para o mais distante povoamento
Com fartura de peixes e vida em todo momento
Quero de novo saciar a sede do ribeirinho sedento
Quero de novo abrigar a piracema, festejar o Nascimento
Comemorar a vida sem nenhum impedimento.
Quero desaguar lá longe
Caudaloso, majestoso, orgulhoso, ressuscitado.
Santiago Ribeiro
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