Persistem, porém, na porta, as batidas indiscretas. Contrariado pela interrupção o poeta de uma forma intempestiva abre a porta violentamente. “ Por favor Sr. Poeta, a sua roupa suja! ___ diz um vozinha tímida, saída dos lábios de uma menininha magricela. Era a filha da pobre lavadeira. “ Agora não posso menina!... venha amanhã!” . “ Mas... a mãe fica sem serviço... e sem pão... somos tão pobres... por favor, Sr. Poeta, sua roupa suja”. “ Não posso, já disse!... E de forma estúpida e grosseira fecha a porta na cara da menina.
E, retornando o poeta, recomeça a declamar. Entre aplausos e ovações termina de forma gloriosa. Felicitações, abraços, sorrisos, elogios. Alta madrugada, surge o rosto pálido e faminto de uma menina paupérrima. Corre os olhos sonolentos pelo quarto, apanha da mesa os originais do poema e rasga-o em mil pedaços jogando-os no cesto de papéis, murmurando, “ Roupa suja” . E desaparece.
O poeta acorda assustado. Procura pelos originais! Estão intactos... começa a refletir! Será verdade que escrevi este poema? Um poema que fala de humildade, amor ao próximo, caridade, desapego das coisas materiais, enfim palavras enaltecedoras da condição humana . Se é verdade por que não entreguei à pobre menina a minha roupa suja? Por que preferi ao invés disso alimentar o meu ego e a minha vaidade?
Levantou-se, mesmo tarde da noite, atravessou metade da cidade e foi entregar a roupa suja na favela onde morava a lavadeira... e lavou com lágrimas de arrependimento a “ roupa suja” que tinha dentro da alma . Agora assim, seu coração declamou, em silêncio, o mais lindo poema da humildade.
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