Anda com passos apressados. O vento gélido fustiga-lhe o rosto, mas seu estado de espírito não permite que se incomode com isso. Aliás, nem toma conhecimento de seu rosto congelado e seus lábios arroxeados. Embora respire com sofreguidão e grande esforço pelo rápido caminhar, o que lhe vai na alma se assemelha a labaredas queimando de dentro para fora,em contraste com a baixíssima temperatura externa.
Ao redor carros e transeuntes passam rapidamente, cada qual ao seu destino,denunciando os primeiros sintomas de vida dessa manhã,temperados com café e fritura.
Sua ansiedade piora à medida em que se aproxima de seu destino.
Pára em frente a tal casa,sente o nó do estômago se apertar.
Toca a campainha estridente acentuando o abalo dos nervos. A cachorrada da vizinhança late em resposta que não lhe serve. Uma senhora atende após alguns segundos. Ela usa óculos de aro de tartaruga e pede que ele adentre ao recinto, onde é conduzido até os fundos da residência. O desespero toma seu cérebro. Pode ouvir nitidamente seu coração bater forte dentro da cabeça. Ele quer se dirigir pra outro lugar, mas seus pés, como a possuir vida própria, não conseguem lhe obedecer.
Posta-se diante do homem que o aguardava. Ainda tenta esboçar uma frase, talvez uma desculpa que não chega a ser formulada. Um forte estampido irrompe no ar. Os pés, que à pouco caminhavam, não mais o fazem.
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