MOCIDADE INDEPENDENTE 1991
CHUÉ, CHUÁ ÁS ÁGUAS VÃO ROLAR
Voltemos ao ano 1991 mais uma vez para registrar uma grande enxurrada na Marques de Sapucaí.
Temporal? Dilúvio? Sim, tudo isso acontecia de uma só vez, transbordando rua abaixo, desembocando na Apoteose, lavando a alma dos Independentes. E a meteorologia já previa o fenômeno El Renato e La Lílian.
E por falar em chuva, é curioso que cerca de 70% do nosso planeta é composto de água, entre mares, rios, oceanos, lagos e lagoas. Foi pela água que se deu origem a vida terrestre, segundo a Ciência. Nosso primeiro contato com as águas acontece ainda no útero materno, a placenta, na origem de todos os seres e a partir dai ela nos acompanha pelo resto de nossas vidas.
E é água para banhos, água para rituais sagrados, água da chuva que semeia os grãos, água do suor nos êxtases humanos, águas de cheiro, água doces, salgadas, na liquidez das frutas... E diante destas tantas possibilidades de se fazer um carnaval, Renato colocou o óculos, escreveu a sinopse e ás águas rolaram...
A Mocidade Independente de Padre Miguel começou a década de 90 de um jeito fulminante. Após ter revolucionado o carnaval carioca com enredos irreverentes com a assinatura de Fernando Pinto, a escola foi buscar na dupla Renato Lage e Lílian Rabello, ex-alunos e discípulos de Fernando Pamplona, uma nova etapa para seus carnavais. Em 1990, a dupla criou o "Vira, virou, a Mocidade chegou!", conquistando o campeonato. E muito mais que isso, inaugurava-se a Era Renato Lage e a estrela da Vila Vintém, mais verde como nunca, brilhava forte para orgulho da Zona Oeste. E a Mocidade, no ano seguinte, com "Chuê, chuá, as águas vão rolar", deu um banho na Sapucaí e muita água rolou__ e falo de lágrimas também.
A escola de Castor de Andrade entrou na Sapucaí com grito de "campeã" e há fazendo bonito desde sua comissão de frente onde 14 bailarinos simulavam o andar dos mergulhadores no fundo dos oceanos. Logo em seguida, o abre-alas, trazendo seu símbolo maior ___ a estrela__ estilizada como estrela-do-mar, azul e branca, cores aquáticas. Mas o melhor ainda estava por vir logo na segunda alegoria, o que deixou muita gente deslumbrada. O carro "Planeta Água", com a representação do útero materno no formato do planeta Terra. Mas há uma explicação para esta alegoria: Lílian estava grávida e ela e Renato tiveram um insight de incluir a gravidez no tema. Não é um gênio? A estética de deste carro, a proposta inserida e mensagem transmitida fazem desta alegoria, para mim, uma das mais impactantes do carnaval carioca da década de 90.
Se me permitem a licença poética, as águas de Chuê, Chuá serviram de batismo a Mocidade Independente, que iniciava, já em 1990, o seu ciclo de desfiles memoráveis da era Renato Lage o que seria de fato único uma fase áurea e soberana a qual sua estrela reinaria triufante (mesmo não sendo campeã) pelos anos seguintes; mas o que fatalmente acabaria 12 anos depois.
Quando a Mocidade acabou sua apresentação, o sambódromo inteiro aclamava a escola como a campeã daquele carnaval. Foi o ápice criativo da dupla Renato e Lílian. O casamento foi desfeito no ano seguinte, mas o trabalho desenvolvido pelos dois para a Mocidade no carnaval de 1991 foi um dos que mais causou arrepio na passarela do samba.
Um fato louvável a uma era que deixou saudades!
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