quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Recordando



IMPÉRIO SERRANO 2002
ACLAMAÇÃO E COROAÇÃO DO IMPERADOR DA PEDRA DO REINO: ARIANO SUASSUNA

Inúmeras estrelas da arte, do teatro, da música e da TV sempre renderam as escolas de samba carioca bons enredos, bons desfiles, e não raro, as duas coisas juntas.

Desde a fundação da Marques de Sapucaí em 1984 então na gestão de Leonel Brizola, o Rio vira passar pela avenida centenas de personalidades que fizeram e fazem a história. Basta voltar um pouco na linha do tempo e encontramos estrelas musicais como: Braguinha, Elis Regina, Tom Jobim, Bidu Sayão, Poetas como Carlos Drumond de Andrade e Luiz Peixoto. Do teatro e TV como Chico Anysio, Chacrinha, Dercy Gonçalves, Bibi Ferreira, Maria Clara Machado, Nelson Rodrigues, Janete Clair e Silvio Santos. E outros perfis também foram exaltados como Barbosa Lima Sobrinho, Ivo Pitanguy e pessoas pelas quais nunca conhecemos, como Margareth Mee, Tereza de Benguela e Gentileza. Isso porque apontei os memoráveis desfiles do Grupo Especial, imagine os desfiles do Acesso...

Mas alguém ainda faltava para completar este panteão de homenageados; e talvez, quem sabe um grande dramaturgo do "chão rachado"? O sertão do Cariri é uma das mais castigadas zonas da caatinga paraibana pela qual o sertanejo aprendeu a conviver sob uma intensa cultura solar, grassando a fome, a miséria e a morte. O povo que aprendeu comer mandacaru cozido no feijão e a farejar água até por instinto, seu bem mais precioso, também é um forte, como já dizia Euclides da Cunha, em Os Sertões. Tão forte que sobrevive as mais terríveis secas e faz da miséria e da solidão as suas eternas companheiras, mas nem por isso deixou de ser valente, guerreiro e sonhador. E também o sertão não nos da apenas tristezas e desalento. Gera-se também da aridez flores de poetas, dramaturgos, artistas, escritores e reis de toda arte. E um dia a caatinga gerou um tal Ariano!

Ariano Suassuna nasceu na Cidade da Parahyba (hoje João Pessoa) na capital da Paraíba, num dia de Corpus Christi, o que acabou por ocasionar a parada de uma procissão que ocorrera no dia de seu nascimento na frente do palácio do governo do estado. Ariano viveu os primeiros anos de sua vida no Sítio Acauã, no sertão do estado da Paraíba. Aos três anos de idade, Ariano passou por um dos momentos mais complicados de sua vida com o assassinato de seu pai, João Urbano Pessoa de Vasconcellos Suassuna, no Rio de Janeiro, por motivos políticos, durante a Revolução de 1930, o que obrigou sua mãe, Rita de Cássia Vilar, a levar toda a família a morar na cidade de Taperoá, no Cariri paraibano. Ariano Suassuna é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor dos célebres Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, é um defensor militante da cultura do Nordeste. Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões.

Então diante de ver tanta contribuição deste forte sertanejo ao teatro brasileiro e por esta longa e gloriosa epopéia do escritor, a Império Serrano em 2002, sob a autoria de Ernesto Nascimento e mais uma comissão, trouxe este importante representante da cultura Nordestina a Sapucai, num desfile memoravel, dignos de Ariano. Era então e estrela que faltava ao esplendoroso limbo acima. E a Pedra do Reino, o gancho que Ernesto usou para desenvolver o desfile a qual batizou: Aclamação e Coroação do Imperador da Pedra do Reino: Ariano Suassuna.

Um desfile ricamente simples, porém com "pé-no-chão", eis as marcas da Império e o traço impar de Ariano a qual, ele e a escola, pareciam uma coisa só. Alias a história de vida da Serrinha e de Ariano parecem se cruzar em determinados momentos e encontramos muitas semelhanças entre eles. Sim, Suassuna sempre foi humilde e nunca renegou suas raizes. Consagrou a Disney como sendo o maior simbolo da imbecilidade do homem. Frequentava as recepções que lhe ofereciam trajando sandálias e gibão de couro. E ao invés de comer caviar e outras porcarias finas, preferia sua carme-seca com farinha regados a uma boa cachaça da terra. Nunca saiu do Brasil. Mas isso também se justifica pelo seu terrivel temor de avião.

E a Império Serrano? Por que é parecida com Ariano pela simplicidade? Ora, basta olhar para a avenida depois de um desfile seu e notarmos que a ela não deixou um rastro de moedas. Mas o peso da tradição que esta escola tem na história do carnaval carioca é que é, de fato, sua maior riqueza. Reduto do Jongo, gerou Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Mestre Fuleiro, Dona Ivone Lara, Alfredo Costa e muitos outros... E ao olhar pelas rugas de sua Velha Guarda lembramos com amor e saudade de Aquarela do Brasil, Exaltação a Tiradentes, Bumbum Paticundum e muitos gloriosos desfiles ao longo de seus 62 anos de vida!

É uma respeitavel senhora a qual o carioca tem grande estima e reverencia. E enquanto suas afilhadas se tornaram ricas e poderosas, a Império se manteve assim, simples como São Francisco, na sua humildade de tia velha a qual sempre temos o prazer e o carinho de ir visitar no interior e sermos recebidos com um abraço materno. Não se ofendam, caros Imperianos, porque nem sempre riqueza em desfiles é sinonimo de sifras, ouro e milhões de reais. E basta olhar pela história da Império Serrano e notarmos o quanto ela é milionária e talvez muitos nem se tenham dado conta disso. Tal é a vida da Serrinha, singular, humilde como Ariano, porém com pé no chão, samba no pé e orgulho no peito. É isso que importa.


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