sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Da nuvem de Clarice


Ao tomar um chá com o Caio (Fernando Abreu), ele me disse que havia se manifestado a respeito das coisas que publicam em nome dele. Seguindo sua dica, cá estou.

Também sofro com os mesmos problemas do Caio. Aqui no além a perturbação é constante, não consigo dormir ou simplesmente preparar um jantar. Fico trêmula ao ver quantas coisas são publicadas anos depois de minha partida da terra. Todos me invocam para justificar suas vidas, amores e desamores. Acredito ser a autora que mais escreve depois de morta.
Dias atrás, recebí várias pessoas na minha nuvem como Machado de Assis, Plutarco, Sócrates e até um tal de Steve Jobs querendo saber qual o segredo de tanta popularidade. Fiquei totalmente desconcertada.

Graças a vocês, meus escritos continuaram atuais por décadas, desde meu primeiro conto publicado em maio de 1940. Deveras, muita coisa é atribuída à mim. Mas não fui eu! rs. Abriram até um perfil em meu nome numa coisa (moderna) chamada facebook, onde se publicavam e se replicavam frases e mais frases, contos em cima de contos, em meu nome e aquilo foi espalhando-se como o vento.

Mas não estou aqui para reclamar direitos autorais, ainda mais depois de meu desencarne em dezembro de 1977. Estou aqui para alertar que muita coisa não é minha e que jamais devem basear suas vidas em coisas que escreví, pois aqueles foram momentos meus, da minha vida. Jamais tive a pretensão de esclarecer este doce mistério que é a vida sentimental. Se isso ajuda, fico feliz.

Ler é um hábito que deveria ser divulgado. Quem gosta conscientemente de mim, sabe que só é possível ler Clarice sendo Clarice. Escrever então, é divino! Como tomar água quando se está com sede, mantém a vida fresca.
Outro dia, sintonizei minha tv nos canais terrestres e ví algo curioso. Era uma casa com pessoas confinadas, cheias de um aparelho chamado câmera que focalizavam o tempo todo, filmavam tudo e dava acesso à todas as pessoas da terra. E todas elas expunham-se à troco de dinheiro. Voltei aos livros, pois repulsa-me só de pensar e, neste caso, é muito melhor ler o que deixei. Como pode alguém cuidar de sua própria vida vigiando a vida de outros? 
Enfim, não sei por onde caminhará a humanidade encarnada, com a desvalorização e banalização de tantas coisas. Caio disse que só volta se for em Júpiter.

Bem, apenas aproveitei este canal aberto para passar esta mensagem e matar saudades da terra. Há muito não me comunicava.
Lembrem-se de tantos outros que deixaram seu legado: Drummond, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira...
Sonhe com aquilo que você quer ser,  porque você possui apenas uma vida  e nela só se tem uma chance  de fazer aquilo que quer. 

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-lo forte.
Tristeza para fazê-lo humano.
E esperança suficiente para fazê-lo feliz. 

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas. 
 Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. 

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.


Haia Pinkhasovna








Obs: Este texto é apenas uma ficção.
Texto do Blog Maionese Virtual
http://www.maionesevirtual.blogspot.com/2012/02/da-nuvem-de-clarice.html

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