segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sete Momentos





Quase onze da manhã. Provavelmente, vai passar das onze quando eu terminar de escrever aqui. E o que mesmo eu queria escrever? Pois é... também não sei. Ou eu sei demais. Ou nada.
Alguns dias, as coisas confusas na minha mente são todas relacionadas entre si. Aí é fácil, porque eu só preciso colocar os verbos e pronomes entre as palavras, e elas dão origem a um texto lógico. Não estou me gabando não, mas funciona mesmo dessa forma simples pra mim. A dipirona que cura minha dor de cabeça tem as formas das teclas com pequenas letras gravadas em cima.

Outros dias, como hoje, fica tanta coisa junta, que é quase impossível concatenar as ideias. Quase como o trânsito na Índia. Todo mundo querendo ir pra lugares diferentes ao mesmo tempo. Inevitáveis acidentes. 
Ansiedade.

Como me concentrar no que eu devo fazer? Ou melhor, como saber o que eu devo fazer? Já nem sei mais qual é a pergunta, mas ela certamente contém as todos os verbos da segunda conjugação: saber, dever, poder, querer, escolher, mover, escrever, ler, ter, ser, estremecer. E outros verbos que da minha própria conjugação: amorecer, amorrecer, amarear, amorear, amar.

Bobagem.

Perco tempo com o tempo que me encontra. E o relógio não me perdoa, mas me atordoa com um tic tac perfeito. Eu quero ser perfeito, e não me convence o argumento de que ninguém o é. A perfeição é relativa, depende de quem a enxerga. Tive o desprazer de conhecer pessoas perfeitas, e agora quero ser como elas. Depois do tic tem que ter o tac.  Mas eu sou relógio com defeito. Parado no tic.
Pressa.
Quando me dou por mim, hoje já é amanhã, e eu ainda não vivi o ontem. Não me prendo, não me ato, mas sou cena, em vários atos. Teatro da vida onde a cortina não fecha nunca, e quando eu começo a acreditar na minha própria mentira de que sou apenas um ator de filme em preto e branco, eu sangro. Porque o vermelho me acorda, e assusta a plateia, de modo que todo mundo volta a prestar atenção naquilo que não tem importância.
Busca.
A carta com a notícia ruim não precisa ser aberta. É melhor que algumas coisas simplesmente fiquem trancadas para sempre, e fora da esfera de conhecimento de qualquer ser que pensa. Eu penso. Porque uma vez que você abre o envelope, cheiros e cores se espalham pelo ar. E não são os neurônios que se incumbem de carregar cada sensação, mas pequenos fragmentos de alma. Eles são burros. Levam tudo pro lugar errado.
Vingança.
Não passa. Mentira dizer que o tempo apaga tudo. Sou animal. Instinto. Mas o meu troco não vem na mesma moeda, e nem sempre é certo ou suficiente. A medida sou eu quem faço. E talvez, depois de um tempo, eu olhe para trás com ar de quem pergunta o que tinha sido dito antes. Não me meça. Não tenho tamanho. Largo, raso, profundo. Vou até o fim do mundo. Pela escada de serviço. Escondido, contido, mantido, minha vida.
Gratidão.
Dependência física e psíquica daquilo que não se pode ver ou ter. Daquilo que se sente. Sem palavras no dicionário. E cem palavras são insuficientes. Não cabe, porque não existe. Como eu. Sem medida. E, ao mesmo tempo, a medida de tudo aquilo que eu quero. Eu quero tudo, e eu quero agora. Não aceito a negativa. Mas nego. Incessantemente. Não tente me mudar. Eu já fui feito assim. E é válido o aviso de não responsabilidade pelos objetos deixados no meu interior. Me eximo. Imprimo. Exprimo. E rimo.
Retorno.
Cordão invisível que me puxa do céu ao chão. Ou pra outra dimensão.
Palavras que me escapam da mente. Desprovidas de sentido, mas carregadas. 
Cuidado: artista pensando





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